A
POSSIBILIDADE DE ALFABETIZAR LETRANDO: QUESTÕES DO ESTÁGIO
Nária
Aparecida Moura Ribas*
Palavras-chave:
alfabetização; letramento; séries iniciais
Introdução
O estágio possibilita uma série de
reflexões acerca da alfabetização nos anos iniciais, desta maneira torna-se
significativo tratar aqui da questão da alfabetização com enfoque no que
desrespeito ao letramento, como as crianças do primeiro ano do Ensino
Fundamental I tem sido alfabetizadas, um questionamento que resgada conceitos
importantes em relação a prática social do uso da escrita.
O estágio foi realizado em uma sala de 1º
ano do Ensino Fundamental, na escola pública, Escola Municipal de Ensino
Infantil e Ensino Fundamental Nossa Senhora Auxiliadora, na cidade de
Hortolândia, com o objetivo de observar e refletir o processo de alfabetização
das crianças e a maneira que esse processo é construído pelo professor, dessa
forma a metodologia utilizada foram as observações diárias e entrevista com a
professora referente a sua formação acadêmica, apresentando ainda as análises e
considerações frente as resultados obtidos.
As discussões acerca do alfabetizar
letrando: um olhar no estágio
Para iniciar as discussões acerca da
alfabetização nas séries iniciais é necessário frisar primeiramente a questão
do ensino de nove anos, ao qual o Ensino Fundamental sofreu uma mudança
recente, frente aos conteúdos e a maneira a ser trabalhada com as crianças que
agora ingressam nesta etapa com seis anos.
Brandão (2009) apresenta em seu texto a
legislação que aborda esta mudança. Inicialmente por meio da lei nº 11.114, de
16 de maio de 2005, modificando o art. 6º da Lei 9.394/96 (Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional- LDB), determinando que fosse diminuída de sete para
seis anos de idade mínima o ingresso da criança no Ensino Fundamental, complementando
nove meses depois com a Lei nº 11.274, de 6 de fevereiro de 2006, determinando
que o Ensino Fundamental no Brasil passasse a ter duração de nove anos.
Com a lei os municípios tiveram que se
organizarem para atender as exigências, mas muitos ainda se acomodaram e
continuam apenas com uma adaptação deste ensino de nove anos. É o caso da
escola estagiada, ao qual os primeiros anos ainda estão funcionando no prédio
de uma escola de educação infantil, sendo modificado o nome da escola para
atender todas as etapas, englobando ensino infantil e fundamental.
Mas
a questão primordial deste contexto é a questão do currículo, o que trabalhar
com estas crianças que faziam parte de um ensino infantil e agora estão no
ensino fundamental, a necessidade de alfabetizá-las logo no início deste novo
1º ano é adequada a proposta inicial exigida pelos documentos e como foi
observada essa questão na sala estagiada.
Para
Brandão (2009) a readequação da estrutura curricular é fundamental, mas devem
levar em consideração que as atividades a serem desenvolvidas nesta série não
podem ser as mesmas da Educação Infantil e nem constituir a antecipação pura e
simples dos conteúdos exigidos para a “antiga” primeira série do Ensino
Fundamental. Concluindo que:
...entendemos
que ampliar o Ensino Fundamental de oito para nove anos de duração significa,
em última instância, aumentar a democratização do acesso à escolarização aos
grupos menos favorecidos da sociedade brasileira, por meio da valorização da
escola. Claro que não podemos nos contentar apenas com a ampliação do acesso à
escola, mas também devemos procurar aumentar o porcentual de sucesso escolar e
diminuir o porcentual de evasão. A conjunção desses três fatores pode fazer a
escola ( e da escolarização) um significativo vetor da cidadania às crianças
pertencentes às classes sociais menos favorecidas. (BRANDÃO, 2009, p. 25)
Batista
(2009) coloca ainda que é necessário fazer uma seleção do que é “relevante”
como conteúdo escolar, considerando a idade e o desenvolvimento da criança de
seis anos, apresentando um trabalho pedagógico que comporte diferentes tipos de
atividades, sejam elas, diversificadas, coletivas, independentes e individuais.
Logo
o ensino de nove anos torna-se importante para a universalização e acesso à
escolarização, mas é essencial um olhar especial para esta etapa, para que os
alunos não sejam sufocados por conteúdos exaustivos e percam o prazer em
aprender.
É
o que observa-se no estágio, as crianças com uma série de atividades em folhas,
enfatizando somente a alfabetização, sem atividades lúdicas que complementem o
trabalho e o torne mais prazeroso e significativo, além de apresentar
atividades somente isoladas, totalmente destoantes do contexto da criança.
Cabe
então, a necessidade de uma reflexão entorno do processo de alfabetização e
letramento relacionadas com as observações do estágio, à medida que o trabalho
da professora com os alunos de primeiro ano enfatiza a questão da alfabetização
como papel norteador de todo seu trabalho.
Leite
(2001) caracteriza como um desafio para os profissionais de Educação a questão
do processo de alfabetização, dizendo que apesar do grande progresso
teórico-metodológico na área, a formação do aluno como um componente leitor e
produtor de texto, em escolas públicas e particulares, ainda se coloca como um
dos grandes objetivos a serem alcançados.
Portanto
o fato de muitos professores passarem por uma formação acadêmica e reflexiva a
respeito do processo de alfabetização, não garante que o trabalho será pautado
em uma alfabetização que garanta ao aluno entender e utilizar a prática da
escrita em seu uso social, decorrendo de atividades simplista com base na
formação de sílabas e palavras, não apresentando nenhum significado à criança.
Assim
o conceito de alfabetização e letramento se distanciam de maneira isolada, mas à
medida que existe uma reflexão a cerca deste dois processos, enriquece a
possibilidade da construção do processo de aprendizagem da criança, garantindo
que tenha um ensino de qualidade que aborde todos os aspectos essenciais para
uma aprendizagem mais significativa, portanto considerar a escrita como uma
prática de uso social, além da representação da linguagem é fundamental.
Contudo o
fato de ensinar alfabetizando letrando o alunos, significa dar a possibilidade
de conhecer a escrita e a leitura no seu uso social, não só como uma questão de
treino mecânico para identificar a escrita, até porque a escrita e a leitura é uma forma de se estar
na linguagem, por isso a importância de ter uma significação. Sabendo ainda que
a criança já é letrada antes mesmos de ser alfabetizada, porque no meio em que
vive já está em contato com a leitura e a escrita, Kleiman (1995) reforça isso
ao citar:
... as crianças são
letradas, no sentido de possuírem estratégias orais letradas, antes mesmo de
serem alfabetizadas. Uma criança que compreende quando o adulto lhe diz: “Olha
o que a fada madrinha trouxe hoje!” está fazendo uma relação com um texto
escrito, o conto de fadas: assim, ela está participando de um evento de
letramento (porque já participou de outros, como o de ouvir uma estorinha antes
de dormir); também está aprendendo uma prática discursiva letrada, e portanto
pode ser considerada letrada, mesmo que ainda não saiba ler e escrever.
(KLEIMAN, 1995, p.18)
Nesta perspectiva Leite (2001) a
alfabetização pensada isoladamente como no ensino tradicional anteriormente
considera a escrita apenas uma representação da fala, representando estas por
códigos, sem a preocupação da função da linguagem. Enquanto o letramento é
utilizar a escrita socialmente, como a linguagem, expressar seus pensamentos,
realizar registros, apropriar-se socialmente da escrita, através de seu uso
social.
Acrescenta ainda, que o letrado
consegue fazer uma interpretação do texto e relacioná-lo com sua vida social,
diferentemente do alfabetizado que codifica e não consegue interpretar o
sentido do texto. A medida que é letrado muda sua condição social e cultural,
pois adquiri mais conhecimento, mudando sua posição, criticando e questionando.
Desta maneira a proposta de
alfabetização observada no estágio vem de contramão com toda as bases teóricas
a respeito de alfabetização e letramento, o fato da professora trabalhar apenas
com atividades isoladas e desconexas da vida criança, impossibilidade estas
crianças a entenderem e vivenciar a escrita como prática social, até mesmo
dificultando a compreensão e o sentido da escrita na linguagem e na vida social.
Portanto para Leite (2009) o papel do
professor alfabetizador é mediar o processo de alfabetização, pensando na
prática que vai abranger o desafio de hoje, alfabetizar letrando,
possibilitando o aluno de além de representar a escrita, interpretar e
compreender o mundo, afirmando que:
...
é possível desenvolver o processo de alfabetização escolar simultaneamente ao
envolvimento dos alunos com as práticas sociais da escrita. Isso, ocorre, por
exemplo, quando os professores alfabetizadores utilizam textos verdadeiros
durante a alfabetização, desprezando as antigas práticas de letramento que só
existiam no interior da escola, como os textos tradicionais das velhas
cartilhas. (LEITE, 2001, p. 32)
Considerações
finais
A
observação na sala de aula frente a análise das questões do letramento
contribuíram muito para uma reflexão acerca da alfabetização das crianças. O
fato de não reconhecer no trabalho da professora o letramento em evidência, que
envolve as crianças, possibilitando a construção da escrita e leitura como uso
na prática social me faz querer buscar meios para que isso acorra de fato,
vontade de ensinar e ver os resultados na minha própria prática, constatando a
importância do ensino dessa maneira para a formação da criança como ser humano
capaz de intervir com ações efetivas na sociedade.
Mas
o que se vê no geral na sala de aula é que a maioria das crianças já estão
lendo e escrevendo com apenas seis anos de idade, então nos perguntamos: mas de
que forma as crianças estão realizando esta leitura, conseguem realizar uma leitura
de mundo, interpretando e relacionando com sua prática social ou apenas
descobrindo a escrita de forma isolada de todo o contexto, ao qual se torna
totalmente sem significação para o processo de construção da aprendizagem.
Cabe
enfatizar depois de toda a reflexão a necessidade de se continuar discutindo
acerca da alfabetização nas séries iniciais, há muito ainda para ser
conquistado e garantir que todas as crianças tenham um ensino de qualidade que
contemple a construção da linguagem escrita como uma prática social.
Referências
bibliográficas
BATISTA, Cleide V. M. A educação da
criança de seis anos. In: BRANDÃO, Carlos da Fonseca; PASCHOAL, Jaqueline
Delgado (Orgs). Ensino Fundamental de 9
anos: teoria e prática na sala de aula. São Paulo: Avercamp, 2009.
BRANDÃO, Carlos da Fonseca. O Ensino
fundamental de nove anos e a legislação educacional brasileira. In: BRANDÃO,
Carlos da Fonseca; PASCHOAL, Jaqueline Delgado (Orgs). Ensino Fundamental de 9 anos: teoria e prática na sala de aula. São
Paulo: Avercamp, 2009.
KLEIMAN, A. Modelos de
letramento e as práticas de alfabetização na escola. In: (ORG). Os Significados do letramento.
Campinas: Mercado de Letras, 1995.
LEITE, S. A. S. (org). Alfabetização e Letramento: contribuições
para as práticas pedagógicas. Campinas: Komedi: Arte Escrita, 2001.
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